terça-feira, 26 de abril de 2011

POR FALAR EM VINHOS (36): MERLOT DO BRASIL MELHOR DO MUNDO?

No dia 5 de março de 2008 quarenta degustadores se reuniram na Embaixada Brasileira de Londres para uma prova às cegas de 27 vinhos da uva merlot. Dezessete garrafas eram brasileiras e outras dez representavam outras regiões do mundo. O critério de escolha foi o preço dos exemplares no mercado inglês no período, entre 15 e 45 libras esterlinas.

O grupo de provadores era da maior competência, quinze deles ostentavam o diploma de Master of Wine – um titulo só concedido após exaustivos e rigorosos testes de conhecimento. Apenas 280 profissionais em todo o mundo têm este privilégio, o paranaense Dirceu Vianna Junior é um eles – e o único brasileiro. O restante do grupo era composto de jornalistas especializados, sommeliers, enólogos e negociantes do mercado inglês de vinho. A prova era parte fundamental da tese de Dirceu Vianna. Seu objetivo era responder à seguinte questão: os vinhos nacionais do Vale dos Vinhedos poderiam competir num ambiente tão disputado como o mercado inglês?

O resultado foi muito favorável ao vinho brasileiro. Os tintos verde-amarelos ficaram à frente de rótulos conhecidos – e de valor similar em Londres – do Chile, da Itália e da França! “Foi uma surpresa”, contou Dirceu Vianna, que reside e trabalha em Londres, ao Blog do Vinho (http://colunistas.ig.com.br). “O meu objetivo era de que um ou talvez dois vinhos brasileiros se saíssem bem e demonstrassem o potencial da região.” A partir daí o que era para ser um estudo sobre a viabilidade do vinho nacional no mercado britânico tornou-se em peça de propaganda do merlot nacional. A associação que representa o Vale dos Vinhedos, na Serra Gaúcha, no estado do Rio Grande do Sul, divulgou os resultados com estardalhaço, com a seguinte pegada: “Ranking dos 10 melhores merlot do mundo tem oito vinhos brasileiros”.
Eis o ranking

1º Miolo Merlot Terroir 2005 – Brasil
2º Thelema Merlot 2005 – África do Sul
3º Pizzato Single Vineyard Merlot 2005- Brasil
4º Vallontano Merlot Reserva 2005 – Brasil
5º Concha Y Toro Casillero del Diablo Merlot 2006 – Chile
6º Larentis Reserva Especial Merlot 2004 – Brasil
7º Don Laurindo Merlot Reserva 2005 – Brasil
8º Cavalleri Pecato Merlot Reserva 2005 – Brasil
9º Michelle Carraro Merlot 2005 – Brasil
10º Milantino Merlot Reserva 2004 – Brasil
11º Capucho Merlot Ribatejo, Portugal
12º Planeta Merlot 2004, Itália
13º Montana Merlot Reserva 2005, Nova Zelândia
14º Berri States Merlot 2006, Austrália
15º Norton Barrel Select Merlot 2004, Argentina
16º Gallo Merlot 2004, Estados Unidos
17º Reserve Mouton Cadet St Émillion 2005, France.

Nota: só entraram na avaliação merlot da região delimitada do Vale dos Vinhedos. Rótulos como por exemplo da Vinícola Salton ou da região de Santa Catarina ou de Pernambuco ficaram de fora.

Palmas para a evolução do vinho nacional. Mas será que esta degustação pode nos colocar no patamar dos melhores do mundo?

Com a palavra Dirceu Vianna, o autor do projeto: “É legal comunicar os aspectos positivos desse estudo, pois a indústria realmente deveria orgulhar-se disso, mas por outro lado a outra metade dos produtores ficaram entre os últimos dez no ranking”. Well, o que é bom a gente mostra, o que não é a gente esconde, não é mesmo? “Comprar um vinho produzido nessa região, para quem não conhece, ainda é arriscado, pois não há consistência de um produtor a outro”, alerta Vianna.
O que o estudo conclui, e isso é muito bom, mas está longe de colocar o merlot nacional no pódio mundial, é que é “os vinhos brasileiros são capazes de competir em termos de qualidade com outros países no mercado britânico”. O estudo relativiza, porém, os resultados: “Levando-se em conta a proporção de vinhos do Brasil e do resto do mundo provados na degustação, os oito melhores colocados representam 47% do total de rótulos nacionais contra 20% de exemplares de outros países”. Vale lembrar ainda que na avaliação geral, nenhum rótulo foi considerado excepcional (outstanding) pelos degustadores. Ou seja, a qualidade geral não era de recordistas mundiais, mas de medalhistas regionais, até pelo corte de preço.

Fonte: http://colunistas.ig.com.br/

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